Carnaval para quem ?
Queridos amigos, amigas e demais conterrâneos, venho, por meio desta nota, expor o tratamento degradante que o carnaval tradicional de Caxias, uma tradição quase centenária de nossa cidade, vem recebendo sistematicamente da Secretaria de Cultura, órgão que, em tese, deveria ser um dos seus principais entusiastas e instrumentos de salvaguarda.Não relatarei todos os pormenores e percalços para que esse texto não fique muito longo e cansativo, como são, geralmente, os processos para recebermos qualquer pagamento por serviço prestado ao órgão supracitado.
Minha indignação é fruto da última terça-feira (25/02), data escolhida para o tradicional desfile de Escolas e Blocos de Caxias, que ocorreu na rua Dr. Berredo, no centro. A confusão teve início com os horários passados pelo poder municipal, como podem observar, em anexo, alguns banners e páginas oficiais informavam que nossa concentração iniciava às 15 horas; e outros, às 19 horas, mesmo se tendo acordado em reunião que o início seria às 17 horas, e, para aumentar o cipoal que a gente não quer, dias antes do desfile, alguns dirigentes de agremiações afirmaram que a concentração iniciaria às 16 horas- “ordens” do secretário! – concluíam.
Chegamos ao local da concentração enfrentando forte chuva e toda a sorte que uma cidade,e um país, sem infra-estrutura pode oferecer, nos protegemos de baixo de árvores e sobrados enquanto, dos postes ao nosso entorno, brotavam faíscas e chamas, as ruas estavam isoladas e com placas de sinalização, porém, não havia um guarda municipal, uma viatura da PM, SAMU, Corpo de Bombeiros ou alguém representando o órgão responsável pela organização do evento, a própria secretaria. Talvez tivessem saído para se proteger da chuva e acabaram levando os banheiros juntos, pois estes também não existiam. E é sabido que o tipo de carnaval que fazemos atrai principalmente crianças e idosos - você consegue pensar o quanto é DESUMANO submeter crianças e idosos a ter que fazer qualquer necessidade no meio da rua? Um dos nossos brincantes quase foi acertado por um galho enquanto atendia aos chamados da natureza de baixo de uma árvore, o que poderia ter lhe custado a vida. Sim, a incúria custa vidas, muitas vidas. O que me leva a pensar: será se o tratamento que nossos gestores oferecem ao povo é o mesmo que eles receberam dos seus pais e/ou dispensam aos seus filhos?
Continuando...
Com muita bravura enfrentamos a chuva e fomos mostrar nosso trabalho, pois nos dedicamos muito para deixar as coisas do jeito que queríamos, foram meses de trabalho duro e de ensaios exaustivos, e, no fim, muitas crianças estavam tocando um instrumento musical pela primeira vez – pense numa cena linda e emocionante! Estávamos muito ansiosos e confiantes no trabalho que queríamos mostrar, sim, queríamos muito, mas não mostramos, faltou o principal: cantar nosso samba-enredo . NÃO HAVIA SEQUER UM MICROFONE PARA AS ESCOLAS E BLOCOS CANTAREM O SEU SAMBA E NINGUÉM PARA ANUNCIAR A ENTRADA DOS MESMOS NA PASSARELA, os expectadores presenciaram blocos e Escolas passarem continuamente sem, contudo, saber das suas propostas, seus temas, suas histórias e sua importância, não somente para o Carnaval, mas para a História de Caxias. A tradição da batucada, dos blocos e escolas de samba na nossa cidade não foi invenção dos políticos, foi criada pelo povo, é uma das suas obras mais genuínas e, em breve, completará 100 (CEM) ANOS DE EXISTÊNCIA, é um absurdo que sejamos silenciados e invisibilizados dessa forma.
O absurdo se torna maior quando pensamos que havia uma estrutura de som montada na passarela, porém, a equipe responsável pelo equipamento não foi informada sobre o desfile das agremiações e, por isso, não disponibilizaram os recursos necessários para os blocos e escolas mostrarem seu trabalho. Pois é, estava ( quase) tudo lá: o som, o microfone, os blocos, as escolas e os expectadores, mas faltou o principal: organização, compromisso, e, sobretudo, RESPEITO.
Expresso aqui a minha indignação e peço para aos amigos, amigas e demais conterrâneos compartilharem essa nota até chegar às autoridades competentes.
Nossa cultura é maior que isso!
Cayo Cezar Cruz
( Presidente da Escola de Samba Malucos por Samba)
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