O motorista por aplicativo Deivid Ferreira de Sousa foi condenado a 15 anos, 6 meses e 20 dias de prisão em regime fechado pela morte do estudante caxiense Gabriel Brenno Nogueira da Silva Oliveira, de 21 anos, assassinado com um tiro na cabeça no Centro de Teresina em julho de 2019. A decisão foi tomada pela maioria dos votos dos jurados.
O julgamento de Deivid Ferreira de Sousa aconteceu nessa segunda-feira (7), na 2ª Vara do Tribunal do Júri no Fórum Criminal de Teresina.
Na decisão, a juíza Maria Zilnar Coutinho Leal condenou o réu por homicídio duplamente qualificado, sendo as qualificadoras por motivo fútil e emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
"O acusado deve iniciar a pena em regime fechado, ele ficará no sistema onde se encontra recolhido. Levando em consideração o homicídio duplamente qualificado, a periculosidade do acusado em meio social, a fuga do acusado que materializam circunstâncias, a prisão não pode ser substituída por outras medidas. Por este motivo nego o acusado de responder em liberdade", concluiu.
Durante depoimento, Deivid Ferreira alegou que não teve a intenção de assassinar Gabriel Brenno e pediu perdão.
. O acusado contou que foi até a pensão onde o rapaz morava para conversar sobre ameaças que a vítima fez contra ele.
Segundo o réu, Gabriel Brenno enviou alguns áudios em tons de ameaça, o que fez com que ele fosse ao encontro do rapaz na manhã do dia 17 de julho de 2019 para conversar. Deivid Ferreira negou que atirou contra o jovem por ciúmes em relação à ex-companheira, Thayanne Fernandes.
O acusado relatou que foi armado porque estava com medo, mas não lembra do momento em que atirou contra o jovem.
"Eu queria conversar com ele, não quis matar ninguém. Não tinha ciúmes, se eu tivesse, eu teria matado era ela. Eu desci do carro, o Gabriel ia saindo, mas eu não me recordo do tempo não. Eu só sei que ouvi uma zoada, não sei se era uma fechada de portão", disse.
Deivid Ferreira afirmou estar arrependido e pediu perdão. "A palavra que eu falo é perdão, diante de uma situação de impotência, que isso não pode mudar o passado. Perante às autoridades eu peço perdão, como pai, também como filho, como cidadão, como família, porque eu tenho família, eu peço perdão”, relatou o acusado.
Após o crime, Deivid informou que foi para o município de Matões (MA). Ele jogou o revólver de calibre .38 em um rio da cidade. Dias depois, ele voltou para Teresina. O homem foi preso no dia após 21 dias do crime, no bairro Verde lar, Zona Leste de Teresina, na casa de uma amiga da família, que estava abandonada, porque a proprietária havia falecido há pouco tempo.
Ex-companheira de réu é a primeira a depor
A ex-mulher do acusado, Thayanne Fernandes, foi a primeira a depor na audiência e pediu que o réu deixasse o plenário por se sentir constrangida em falar na frente dele.
A juíza Maria Zilnar Coutinho Leal fez os primeiros questionamentos sobre o relacionamento de Thayanne com o acusado e com a vítima. Depois passou o interrogatório para o promotor do caso, João Malatto.
Ela afirmou que soube da morte de Gabriel por meio da Polícia Civil e foi sozinha à delegacia. “Fiquei sem saber o que fazer. Eu desmaiei”. Desde então, ela não teve mais contato com a família do réu.
Thayanne Fernandes contou como conheceu a vítima. Ela disse que começou a conversar com Gabriel Brenno pelo Instagram, que aceitou a solicitação por terem amigos em comum da academia e chegaram a conversar pessoalmente uma vez.
Ela afirmou que estava “separada de corpos” de Deivid, mas ainda morava com ele. Segundo ela, seu relacionamento com Deivid sempre foi abusivo e ele a difamava, enviando prints das conversas dela para a faculdade dela e o trabalho, relatando a traição.
Sobre o crime, ela revelou que “foi um baque muito grande. Não imaginava que ele fosse capaz de fazer isso”.
Após a primeira separação, eles tentaram salvar o relacionamento. “Se eu soubesse que ia chegar a esse ponto, eu não teria voltado”.
Thayanne Fernandes contou também que já tinha sido traída pelo réu Deivid Ferreira de Sousa e que tentou ir embora depois disso. “Eu já estava querendo ir embora e ele não deixava. Ele me fazia tortura psicológica”.
Segundo a comerciária, Deivid quebrou um celular seu e lhe deu um novo, mas disse que ficaria com o aparelho porque foi ele quem comprou.
Ela destacou que, com este celular, Deivid conversava com Gabriel. Thayanne não soube de ameaças por parte do réu. Gabriel dizia a Deivid, nas conversas, que não sabia que a mulher era comprometida.
A testemunha disse que dependia financeiramente de Deivid e que, se se separasse, teria que ir embora para União. Ela contou que nunca tinha visto arma de fogo na casa em que morava com Deivid.
Thayanne contou que, desde o crime, ela evita ler reportagens jornalísticas sobre o assunto. “Eu sofro muito com isso tudo”, discursou, caindo no choro.
A juíza deu uma pausa no depoimento para a informante se recuperar. Depois, ela relatou que o réu era muito ciumento e até para tomar banho ela tinha que ficar com a porta do banheiro aberta.
Segundo ela, o réu já a agrediu com dois socos, enquanto ele estava embriagado. “A gente brigava muito”, diz.
A mulher contou ainda que, após a separação, Deivid a procurou para reatar porque ele estaria sofrendo muito e pediu um encontro. Como estava com muito receio, ela aceitou rever o réu na frente de uma igreja, no Centro de Teresina.
Outros depoimentos
O segundo a prestar depoimento foi o enfermeiro Gilberto Pereira, que morava com a vítima. Gilberto acredita que o crime foi premeditado, pois Deivid “passou uma semana de tocaia” próximo à residência.
“Toda vez que eu saía ou chegava do trabalho, Deivid estava perto da porta”, relatou. O informante também disse que o réu tentou se hospedar na pensão.
Gilberto contou, ainda, que Gabriel nunca relatou ameaças, mas notou que “Gabriel estava estranho”. Ele presenciou um encontro entre a vítima e Thayanne uma vez no quarto, momento em que pediram uma pizza.
A doméstica que trabalha na pensão, Erlani dos Santos Silva, foi a terceira a depor. Ela relatou que viu Deivid “umas duas ou três vezes” rondando o local. No dia do crime, ela não estava no trabalho ainda, mas reconheceu o réu pelas imagens da TV.
Na sequência, falou Fábio Augusto de Carvalho, professor de Artes Maciais do Gabriel. Segundo ele, Thayanne e o aluno trocavam olhares na academia. De acordo com este relato, ela não usava aliança e teria começado a conversa em uma rede social com a vítima. Sabendo que Thayanne sempre era deixada de moto por um homem, o professor orientou Gabriel a se afastar da moça.
Fábio Augusto disse que a vítima chegou a relatar sobre as conversas com Deivid e que eles iriam se encontrar. Depois, o aluno teria ficado estranho, se afastado da academia por dois meses e não passava confiança nos diálogos por telefone. “Ele já estava receoso de sair nas ruas por conta disso”, narrou o professor.
O amigo de Deivid, o pedreiro Vitorino Timóteo, foi o próximo a ser questionado; seguido do irmão do réu, Deidme Ferreira; o vizinho, Francisco das Chagas; e o amigo, Erivan da Silva Oliveira. Todos demonstraram desconhecimento sobre algum fato que desabonasse a conduta de Deivid.
Às 12h30, o julgamento foi suspenso. Após o retorno, um vídeo da dona da pensão, Maria Helena Castelo Branco, foi transmitido. No interrogatório, ela afirmou que estava presente no dia do crime e se assustou com o barulho dos tiros. “Quando saí, vi os pés de Gabriel. Foi forte demais pra mim”, contou, com voz trêmula.
Sobre a tentativa de hospedagem de Deivid, Maria Helena revelou que negou o pedido dele, alegando que somente hospedava estudantes. Ela reconheceu o rapaz pelas imagens divulgadas e disse que seu filho, Gilberto, falava que tinha medo de um homem que o encarava por aquela área.
Após os relatos das testemunhas e informantes, o réu passou a ser interrogado pela juíza. Deivid expôs que estava correndo risco de vida, pois estava sendo ameaçado por Gabriel, em mensagens que viu no celular de Thayanne.
O denunciado falou que mandou mensagem à vítima no dia da descoberta da traição, mas Gabriel não respondeu. Ele acredita que Thayanne mandou mensagem ao estudante, por meio do contato de uma amiga, avisando que não era ela quem estava conversando.
Ele disse, ainda, que somente queria falar com Gabriel sobre as mensagens e que foi armado pois estava com medo. Deivid possuía a arma há anos, segundo ele para segurança pessoal. Deivid acrescentou que ficou com revólver por duas semanas, depois o jogou em um rio em Matões-MA.
“O que peço é perdão, diante de uma situação que não posso mudar o passado. Como pai, como filho e como cidadão, eu peço perdão”, pediu o réu.
O estudante Gabriel Brenno, de 21 anos, foi baleado na cabeça no dia 17 de julho de 2019, logo após sair da pensão onde morava na Rua Paissandu, no Centro de Teresina.
O estudante foi socorrido e encaminhado para o Hospital de Urgência de Teresina, onde ficou seis dias internado até falecer no dia 23 de julho.
Imagens de câmeras de segurança de estabelecimentos localizados na região onde aconteceu o crime flagraram o momento em que o estudante foi baleado.
Nas imagens é possível ver o atirador esperar o estudante sair da pensão para surpreendê-lo. Depois do tiro, o suspeito fugiu correndo.
O suspeito foi identificado como o motorista de aplicativo Deivid Ferreira. Ele foi preso após 21 dias do crime, no bairro Verde lar, Zona Leste de Teresina.
Segundo denúncia do Ministério Público, o crime foi premeditado. "De acordo com os depoimentos prestados em fase investigativa, a vítima estava saindo da pensão em que se hospedava, quando o denunciado chegou e sem qualquer justificativa disparou contra a vítima que estava de costas, ainda fechando o portão, tendo o denunciado fugido logo após o crime. Conforme depoimentos de funcionários da pensão em que a vítima se hospedava, o denunciado, dias antes de praticar o crime, tentou se hospedar na referida pensão, o que demonstra o planejamento para a prática do crime", informou.
O MP apontou que o assassinato ocorreu por motivo fútil, porque o acusado teve ciúmes da relação da companheira com Gabriel Brenno.
"Os depoimentos das testemunhas e do próprio acusado, em seu interrogatório, apontam que o crime se deu por motivo fútil, já que o denunciado ceifou a vida da vítima por ciúmes, pela suposta ocorrência de um envolvimento amoroso entre a vítima e a companheira do autor do crime", destacou o MP.
Fonte:G1Pi
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