segunda-feira, 27 de abril de 2020

DOUTA MISÉRIA INTELECTUAL BRASILEIRA

Uma sociedade está fadada a tonar-se presa ingênua de todas as formas de manipulação, quando desprovida de uma elite intelectual capaz de operar como filtro cultural.

No final do ano passado, Netflix exibiu, em especial de Natal, filme produzido por Porta dos Fundos, película em que Jesus Cristo é retratado como homossexual, Maria como adúltera e José como idiota traído por Deus.

Ninguém havia percebido que o atrevimento do Porta dos Fundos era apenas o resultado de um longo e paulatino processo de amortecimentos do senso moral da população. A agressão ao senso comum, o ataque às crenças populares e a indução a novos modelos de comportamentos são sempre a consequência de um ordenado esforço de desconstrução cultural. O especial de Natal do Netflix não seria possível, se antes não tivesse havido O Auto da Compadecida.

A minissérie O Auto da Compadecida, baseada na obra de Ariano Suassuna, produzida pela Rede Globo e dirigida por Guel Arraes, é uma propaganda bem disfarçada da Teologia da Libertação. Visto de maneira criteriosa, percebe-se que todo o enredo da obra é um empenho para demonstrar uma Igreja tradicional corrompida. O Major Antônio de Morais, o padeiro e sua esposa, membros da burguesia local, formam a típica elite opressora. Chicó e João Grilo são os pobres oprimidos que, apesar de viverem de trambiques, são descritos com cândida inocência. O Juízo Final é a síntese ideológica da Teologia da Libertação. O cangaceiro recebe a absolvição de plano, porque sua vida de crimes era justificada pela tragédia de sua infância de menino órfão e pobre (o bandido é produto da sociedade excludente), João Grilo recebeu nova chance, porque sua trajetória de mentiras e trapaças era justificada pela dureza de sua vida (“a mentira é a arma do pobre”, diz Nossa Senhora, interpretada por Fernanda Monte Negro). O padre e o bispo são enviados diretamente para o Purgatório, o que, para dois sacerdotes, é um fim trágico que, por extensão, põe sob suspeição a própria credibilidade da Igreja.

Nem mesmo o mais radical dos católicos percebeu o sutil ataque. Ao contrário, não faltou quem comparasse a minissérie de Gel Arrais com o filme do Porta dos Fundos para enaltecer a primeira e tripudiar sobre o segundo.

O que as pessoas não compreendem é que, na revolução cultural, toda ideologia é sempre introduzida de forma sutil, de modo que o público não perceba o engodo, ou seja, que não perceba que por trás há uma finalidade destrutiva. Somente com o passar do tempo, quando certos padrões de julgamento já tenham sido dissolvidos, é que a ideologia pode se mostrar mais virulenta, ao ponto de tornar possível um filme como o do Porta dos Fundos.

Remodelar as mentes por meios sutis é estratégia que Hollywood esbanjou com desenvoltura incomum. Na década de 30, começou de modo muito discreto com os filmes do humorista gay Edward Horton, que interpretava personagens espalhafatosas e implicitamente homossexuais, mas que tiravam boas risadas do público. Já nos anos 60, o que era sutil foi-se tornando explícito, e o alvo passa a ser o casamento tradicional. Hollywood produziu “Quem tem Medo de Virgínia Woolf?”, adaptação da obra do escritor gay Edward Albee, e “Divórcio Estilo Americano”, com Dick Van Dyke. Na sequência vieram filmes que desvalorizavam o comportamento masculino, em que homens disfarçavam-se de mulher, e vice-versa, como “Tootsie” (1982), com Dustin Hoffman interpretando uma mulher; o musical “Victor/Victória” (1982) em que Julie Andrews usa roupas masculinas; e ainda a comédia “Mrs. Doubtfire” (1993), com Robin Williams na pele de uma matrona.

Passada a fase cross dressing, chegou às telas do cinema “Philadelphia”, com Tom Hanks (1993), para retratar a figura de um digno homossexual lutando contra os preconceitos de uma sociedade conservadora. De quebra, o gay aidético era defendido por um negro heterossexual. Na sequência vieram “A Gaiola das Loucas” 1996), com Robin Williams e Nathan Lane no papel de um casal homossexual rejeitado pelas famílias; In and out (1997), contando a vida de um professor gay; os cowboys românticos de Brokeback Mountain (2005); e, finalmente, The kiss, com Kevin Kline e Tom Selleck.

Hollywood e a Academia empenharam todo os esforços na empreitada de remodelar padrões de comportamento. “Hanks ganhou o prémio de Melhor Ator pela participação em “Philadelphia”. Hillary Swank foi consagrada Melhor Atriz pelo papel de transgênero em “Meninos não choram”. O Academy Awards, do ano 2000, foi uma declaração de amor homoafetivo do início até o fim, com o Melhor Filme para “Beleza Americana”, um manifesto contra o casamento heteronormativo e em favor da pedofilia, ostentando nudez adolescente e comportamentos homossexuais”, explica Jean-Marie Lambert.

Em suma, é sempre um processo de dessensibilização. Do simples beijo romântico em “E O Vento Levou” até as cenas eróticas de “Garganta Profunda”, era apenas uma questão de tempo.

Dito isso, é fácil perceber que a diferença entre O Auto da Compadecida e o filme do Porta dos Fundos é apenas de qualidade: aquele é uma comédia bem humorada; este é um grotesco arremedo de humor. Mas, na essência, ambos são ideologicamente engajados dentro de um mesmo processo de engenharia social que quer destruir o padrão cultural da civilização ocidental. O filme do Porta do Fundo é agressivo e, por isso, choca. O Auto da Compadecida é sutil e, por isso, tem grande potencial para enganar o espectador de espírito desarmado. Por essa razão, a obra de Suassuna é muito mais nociva. Induzir o espectador a que analise O Auto da Compadecida como um despretensioso folhetim é a intenção do diretor, justamente para romper com padrões culturais, sem que ninguém perceba. Há um estratagema a comandar a dissolução dos padrões de conduta.

No Brasil, a classe intelectual, que deveria ser a primeira linha de defesa da população, foi cooptada para prestar culto e louvor às ideologias estrangeiras, sendo a principal propagadora de ideias que tanto mais divulga quanto menos compreende.

Autor: Marcio Luís Chila Freyesleben

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