Revelações do cardeal Erdö indicam contatos entre o presidente Macron e vários cardeais franceses, com o objetivo de impedir a eleição do cardeal Sarah.
As recentes declarações do cardeal Péter Erdö, arcebispo de Esztergom-Budapeste, geraram grandes questionamentos sobre as manobras políticas nos bastidores do próximo conclave. Segundo ele, existem “contatos” entre o presidente Macron e vários cardeais franceses eleitores, com o objetivo de bloquear a candidatura do cardeal Robert Sarah. Uma manobra que, se confirmada, pode ter profundas implicações para o futuro da Igreja Católica.
O cardeal Erdö teria revelado recentemente esses contatos entre Macron e alguns cardeais franceses, afirmando que estes estariam ativamente tentando impedir a ascensão do cardeal Sarah, considerado a figura principal da corrente conservadora dentro da Igreja. O cardeal Sarah representa uma fidelidade intransigente aos ensinamentos tradicionais da Igreja, o que incomoda certos círculos influentes, tanto eclesiásticos quanto políticos, especialmente na França.
A suposta intervenção do presidente Macron lança uma luz crua sobre a interação problemática entre poder temporal e autoridade espiritual. Isso levanta a questão da ingerência de um chefe de Estado laico em um processo deliberadamente espiritual, destinado a permanecer independente de qualquer pressão externa.
Contrariamente a algumas publicações que mencionam "cinco cardeais franceses", na verdade são seis os cardeais que podem votar no conclave de 2025:
- O cardeal Jean-Marc Aveline, arcebispo de Marselha.
- O cardeal François-Xavier Bustillo, bispo de Ajaccio.
- O cardeal Dominique Mamberti, prefeito do Tribunal Supremo da Assinatura Apostólica.
- O cardeal Christophe Pierre, núncio apostólico nos Estados Unidos.
- O cardeal Philippe Barbarin, arcebispo emérito de Lyon.
- O cardeal Jean-Pierre Ricard, arcebispo emérito de Bordeaux.
A confusão surge porque o cardeal Jean-Pierre Ricard, embora formalmente um eleitor (não tendo ainda completado 80 anos), é frequentemente omitido na mídia devido a um caso de abuso que ele reconheceu em 2022. Alguns o consideram moralmente desqualificado, embora ele continue sendo formalmente membro do colégio eleitoral.
Ainda segundo o cardeal Erdö, os cardeais franceses em questão representariam uma linha mais progressista, próxima ao pontificado do papa Francisco, e seriam contrários a um retorno a uma governança mais rígida, doutrinária e tradicional, como a defendida pelo cardeal Sarah.
Os desafios são múltiplos: continuidade das reformas pastorais atuais, relação com a liturgia, posição sobre a homossexualidade, acolhimento de migrantes e, mais amplamente, a relação da Igreja com o islamismo. Neste último ponto, o cardeal Erdö fez uma afirmação forte: “O islamismo é um fanatismo monstruoso”. Este comentário, longe de ser isolado, ilustra a divisão entre duas interpretações da realidade geopolítica: uma que pede vigilância, e outra que prefere minimizar ou até silenciar certos assuntos sensíveis.
O cardeal Sarah, símbolo de uma Igreja fiel à sua tradição
Através de suas posições firmes sobre a liturgia, identidade cristã, islamismo e até mesmo as derivações ideológicas, o cardeal Sarah se tornou uma voz potente e respeitada. Sua possível eleição seria vista como uma reversão de tendência após o pontificado do papa Francisco. Esse cenário assusta parte do clero e dos diplomatas, que temem um retorno a uma forma de rigor doutrinário. Para muitos fiéis católicos, sua candidatura representa uma esperança: uma Igreja que não transige com o Evangelho e que assume seu legado espiritual e doutrinário. Por outro lado, seus opositores desejam que a Igreja continue sua orientação em direção a uma postura mais inclusiva e dialogante, mesmo que isso envolva ambiguidades em pontos fundamentais da doutrina.
Se a intervenção do presidente Macron for confirmada, isso representaria um grave precedente. Como chefe de um Estado laico, seu papel não deveria ser o de influenciar a escolha do sucessor de São Pedro. Qualquer tentativa nesse sentido colocaria em risco a independência do conclave e a liberdade da Igreja de discernir segundo o Espírito Santo, e não segundo os interesses do momento.
Se as declarações do cardeal Erdö forem verificadas, isso abrirá um grande debate sobre a independência do processo eleitoral da Igreja frente às pressões políticas externas. O cardeal Sarah, ao representar uma fidelidade radical a Cristo e à tradição, encontra-se no centro de um confronto ideológico que vai além de sua própria pessoa. Este conclave pode, de fato, marcar uma virada decisiva para o futuro da Igreja universal.
Fonte: Tribune Chrétienne
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