terça-feira, 1 de agosto de 2023

EDMILSON SANCHES: A CELEBRAÇÃO DE 200 ANOS DE CAXIAS - UMA HISTÓRIA DE DESINFORMAÇÃO E MANIPULAÇÃO POLÍTICA


CAXIAS: UMA CIDADE PERDIDA EM CELEBRAÇÕES EQUIVOCADAS E LIDERANÇA FALHA

UM DIA, EXPLODIRÁ...

 1º/agosto/2023)

Imagens: Pastos Bons, “filha” de Caxias, e seus 259 anos em 2023. Pelas produções publicitárias seguintes, quantos anos está completando Caxias? As publicidades induzem a acreditar que a cidade está comemorando 200 anos de fundação, de existência. Uma pessoa estranha a Caxias acreditará ou não que a cidade completa/completou 200 anos? Esse é o poder da desinformação. Essa é a desinformação do Poder.

Uma sem-vergonhice institucional. As "peças" publicitárias dizem que são "200 anos de Caxias" e "200 de Gonçalves Dias". Quanta desinformação em nome da publicidade!...

Quer dizer que Caxias, num ato de mágica -- Shazam! Pirlimpimpim! Abre-te, Sésamo --, passou a existir apenas nove dias antes de nascer Antônio Gonçalves Dias, o advogado e escritor, autor da "Canção do Exílio"... 


E ainda tem gente nossa que corrobora isso!... Ninguém sai com uma nota institucional, mesmo sem a força midiática da Prefeitura, para se posicionar e informar os caxienses sobre essa demência voluntária, política e institucional.

A Prefeitura, por meio de seu marketing e mídia desabusados, pedantes, revogou (com que poder, a não ser o da ignorância e da insolência?...) a categoria de distrito de Caxias em 1735, 88 anos ANTES da data que tanto se preza e se "compra" como sendo de "fundação", "existência" de Caxias?


Quer dizer que, todo-poderosos como se acham quando estão no Poder -- como se oito anos não se acabassem e Ministério Público, Justiça e Polícia não existissem a partir daí --, quer dizer que também "revogaram", anularam o alvará de 31/10/1811, que deu o "status" de vila para Caxias, 11 anos e 9 meses ANTES do 1º de agosto de 1823? (A categoria de cidade, para Caxias, viria a 5 de julho de 1836).

O voluntário, "de caso pensado", analfabetismo histórico-cultural dessas tidas e ditas tais autoridades é tanto que seria interessante esses (in)dignitários explicarem porque Pastos Bons, que era distrito / povoado / povoação de Caxias, NESTE 28 DE JULHO DE 2023, está comemorando 259 (DUZENTOS E CINQUENTA E NOVE ANOS) DE FUNDAÇÃO. Como é que um filho pode ser mais velho que a mãe? (Em Pastos Bons, alguns registram 259 anos de "emancipação", mas o ano de 1764 é o do início da formação histórica da cidade, com a chegada das primeiras pessoas que iniciaram a povoação e construíram uma igreja; a emancipação se dá, como está na definição dessa palavra, com a autonomia, a independência do lugar, que passa a condição de cidade/município).

Pastos Bons foi desmembrado de Caxias, isto é, deixou de fazer parte do território de nossa cidade e ganhou sua própria autonomia político-administrativa, em 29 DE JANEIRO DE 1820, TRÊS ANOS ANTES da data em que começou a "existência" de Caxias, segundo os arautos e alardeadores dos "200 anos de Caxias", na verdade o bicentenário da adesão do município caxiense à Independência do Brasil... 

Uma explicação a mais sobre “adesão à Independência”: Em 1º de agosto de 1823, Caxias foi o penúltimo lugar a aderir à Independência do Brasil, que, como se sabe, ocorrera um ano antes, em 7 de setembro de 1822. A Bahia aderiu um mês antes de Caxias, em 2 de julho de 1823. São Luís foi a antepenúltima, em 28 de julho, quatro dias antes de Caxias; e a capital paraense, Belém, foi a última das localidades brasileiras a aderir à Independência do País, em 15 de agosto de 1823. De modo simples, a adesão à Independência significava que aquela cidade ou aquele estado do Brasil deixava a condição de lugar sob mando ou forte influência de portugueses, os quais eram, em geral, detentores e/ou forte influenciadores dos poderes político, administrativo, econômico, como era o caso de Caxias a ponto de as próprias autoridades caxienses terem sido as pessoas que solicitaram a presença do general português João José da Cunha Fidié e seus comandados para defender Caxias daqueles que queriam a cidade integrada ao Brasil. Com a liderança do capitão-mor cearense José Pereira Filgueiras, os revoltosos aumentaram a força e terminaram prendendo Fidié, que foi preso e passou pelas cadeias de Oeiras (PI), Salvador (BA) e Rio de Janeiro, até Dom Pedro 1º conceder-lhe a liberdade e devolvê-lo para Portugal, onde o general foi homenageado e sucessivamente nomeado para vários cargos em estabelecimentos militares, falecendo em 1856, 33 anos depois de sua malograda tentativa de fazer de Caxias um enclave português. 

Pastos Bons considera sua data magna o momento em que, em 1764, pessoas, de vontade própria, construíram uma igreja, embora desde a década de 1740 tenha sido criada a Freguesia de São Bento das Balsas de Pastos Bons e pessoas, sem falar na anterioridade dos índios amanajós, começaram a ocupação de seu território e ali decidiram ficar, trabalhar, progredir, morrer, deixar descendência para continuar a lida...

Portanto, Pastos Bons, município que é filho de Caxias, saiu do território de Caxias, completa 259 anos... (repita-se, sem falar que esse município poderia “puxar” sua data para mais antigamente, pelo menos uns 20 anos, já que na década de 1740, repito, fora criada a freguesia de Pastos Bons). E como Caxias, que é a "mãe" territorial e histórica, de Pastos Bons só tem 200 anos?! Pastos Bons, a filha, completa 259 anos; Caxias, a mãe, completa 200 anos!... Como são tão desligados, sem compromisso, esses seres ditos e tidos como caxienses que não fazem nem conta de mais e menos?!...

É uma pena!... Esse tipo de gente que nasce em Caxias mas Caxias não nasce nelas... 

Amor por Caxias feito de retórica, de palavras e ações "ex officio", estatutárias, mandatórias...

Na verdade, as populações de municípios no país inteiro estão carecas de saber quais são, re-al-men-te, os "interesses maiores" dos tais administradores, gestores, mandatários públicos deste País. A CGU sabe... O MP sabe... a PF sabe... os responsáveis por (i)licitações sabem... os que as vencem sabem também... os que têm certas remunerações, indicações, empregos, concessões, são outros que sabem... 

A maior cidade do Maranhão, depois da capital, Imperatriz, é BISNETA territorial de Caxias. Imperatriz saiu de Grajaú, Grajaú saiu de Pastos Bons, Pastos Bons saiu de Caxias). Pois bem: Imperatriz tem sua data maior o 16 de julho, dia em que, em 1852, pessoas ali chegaram, à margem direita do grande rio Tocantins, viram um descampado no meio da alta floresta e ali decidiram iniciar uma cidade.

E Caxias, o que se está fazendo com ela, com o beneplácito, a preguiça, a falta de coragem, de ousadia, de inovação e de criatividade de quem acha que manda e que será eterno e plenipotenciário aqui?

Simplesmente desconsideram os registros que dizem que Caxias começou a existir a partir do século 17, em 1612, com a chegada de franceses, brancos, índios etc., maravilhados com a qualidade das terras às margens do Itapecuru caxiense.

Aí, ao invés de buscar o aprofundamento e documentação desse recorte histórico, estabelecer uma data (dia e mês) para esse ano de 1612, o que fazem essas tidas e ditas autoridades daqui, acostumadas a derrubar prédios, imagine fatos? Acostumadas a desfazer ou deixar desfazerem-se edificações históricas, pois são elas, essas tais autoridades, que sabem que aqui, terra de muita perplexidade e inação, aqui até as pedras morrem...

O que fazem, então, enfim? Esquecem datas ancestrais -- 1811... 1735... 1612... -- e "surfam" na onda do que lhes é mais rentável politicamente, eleitoralmente (pois no Brasil todo ano é eleitoral ou pré-eleitoral).

E a maior parte da população, anestesiada com a única inoculação midiática que lhes chega aos olhos, aos ouvidos, às veias, às ventas (!), com essa repetição enfadonha de uma data que não tem a ver com o início da formação histórica da cidade, do município, a maior parte da população, os jovens, sobretudo, acham que o 1º de agosto é a data de fundação da cidade...

Nenhuma entidade histórico-cultural-educacional de Caxias é procurada pelos Poderes Públicos  -- e elas também não se manifestam institucional e exemplarmente... -- , para discutir um convênio para estudos, pesquisas e conclusão técnica acerca da data de fundação de Caxias, que deveria ser a de 1612. Há lugares na França e em Portugal, em São Luís, Rio de Janeiro, Brasília, Belém etc. para serem pesquisados. Ficam algumas pessoas e Instituições deixando-se ou escolhendo orbitar em volta de Poderes Públicos que possam mais tarde ceder funcionários, endereçar uma verbas, fazer (in)certos favores  --  enquanto esses próprios Poderes, por sua vez, gravitam em torno de meia dúzia de sobrenomes de famílias que se presumem detentoras da patente de (co)mandar n(a) cidade e ainda se “ofendem” com a presença de novos disputantes, aos quais os “poderosos” tentam  -- e geralmente conseguem --  aliciar, cooptar, “comprar”. As pessoas deveriam ter só uma cara  --  mas, se tivessem duzentas, todas deveriam ter vergonha. Não se devia comprar ninguém, nem ninguém devia se vender também... Coisas têm preço; seres humanos têm, ou deveriam ter, valor.

É tanto faz de conta, é tanta aranhice (a aranha sobe pelo fio da própria baba -- é a imagem dos babões, bajuladores e puxa-sacos), que não é de estranhar que Caxias esteja caindo nas tabelas de crescimento do Estado e do País: se, na Economia, já chegou a ser a sexta (6ª) maior do Maranhão e a de número 475 no Brasil, entre 5.570 municípios, os números de agora, os mais recentes, dizem que Caxias caiu para a 9ª posição no Estado e caiu 64 (sessenta e quatro) posições no Brasil, ficando no "ranking" em 539º lugar.

E para as "aranhas" que sobem pelo fio da própria baba que vêm defender o indefensável, que vêm dizer que "História não tem a ver com Economia", seria bom perguntar a esses aracnídeos o que eles, então, têm a ver com isso. 

Porque não se está falando aqui de História, nem de Economia. 

É algo bem maior... 

Pare-se por aqui. Porque de desinteligência está cheio o País...

De ocorrências, estão cheios os boletins da Polícia Civil...

De denúncias, estão cheios os Órgãos policiais, ministeriais, controladorias gerais...

De insatisfações, está cheia a capacidade de indignação de quem sustenta tudo isso  --  o contribuinte.

De lero-lero, farsa, jogo baixo e aparência está cheia a nossa paciência.

Um dia, ela explodirá.

EDMILSON SANCHES

edmilsonsanches@uol.com.br

Membro da Academia Maranhense de Ciências, do Conselho Regional de Administração, do Conselho Regional de Contabilidade, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, da Academia Internacional de Literatura Brasileira (Estados Unidos), do Instituto Histórico e Geográfico e Academia de Letras de Caxias, e de Academias de Letras dos Estados do Maranhão, Pará, Espírito Santo e São Paulo.

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