terça-feira, 1 de agosto de 2023

A PROPÓSITO DA “NOSSA” EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DE 01 DE AGOSTO DE 1823! POR FRANCINALDO MORAIS, HISTÓRIA.

Foto: Familia de negros depois da Abolição de 13.05.1888.

[01.08.1823-01.08.2023]. São duzentos anos desde  que os vencedores da/na História de Caxias convencionaram como dia da Adesão de Caxias ao processo de Independência política do Brasil em relação a Portugal (1808-1822). 
Há muitas outras datas, dependendo do "lugar social" de quem escreve a História ou a quem serve sua "pena". Indígenas e Negros, dois exemplos, não escreveram ainda suas versões! 
O Cristianismo aqui praticado foi grande protagonista, em favor dos vencedores, mesmo quando do lado dos vencidos; as igrejas católicas, à maneira de castelos medievais, e alguns cemitérios são testemunhas materiais disto. Os cristãos evangélicos conquistaram sua Praça da Bíblia, mas não há monumentos religiosos aos Timbiras e Gamelas e, também, não se tem ainda uma Praça com símbolos religiosos afro-brasileiros (dois grandes tambores, p.e). Excluídos agora, mas nos idos dos oitocentos, indígenas e negros não faltavam no Centro de Caxias. 
O Pelourinho da cidade, provavelmente onde hoje está a réplica do “Cristo Redentor” e os incontáveis troncos particulares em fazendas rurais e casas de potentados urbanos não cessavam com seus horrendos sons humanos! Pelourinho público e troncos privados formavam o sistema escravista local constituído pela entrada de escravizados no Porto Grande, subida pela Rua do Porto Grande e concentração no Mercado de Escravos, no canto onde hoje está as Lojas Americanas (Complexo escravista municipal: Porto, Mercado de Escravos, Pelourinho, Igreja, Câmara e Delegacia). Os patriarcas Almada Lima, nos Três Corações, e os patriarcas Castelos, no Centro, foram alguns dos potentados que acumularam riquezas com o escravismo caxiense.
Foi assim porque Caxias era, no estado do Maranhão, entre 1800 e 1850, conforme  cronistas e evidências historiográficas, a segunda maior concentração de "estrangeiros", principalmente portugueses (entre estes, a família Dias). Caxias era um entreposto privilegiado pela localização entre Pastos Bons e a Bahia. Esses "estrangeiros" mandavam e desmandavam, negociavam direto com a Metrópole, assentados no arroz, algodão, gado e outros produtos, via navegação do Rio Itapecuru. 
Durante todo esse tempo as elites nativas, econômicas e políticas, cresceram e se desenvolveram em Caxias e, assim, passaram a lutar contra a hegemonia dos “estrangeiros” até se unirem com cearenses e piauienses “independentistas” no processo de Adesão.
O mesmo não ocorreu com a classe trabalhadora, motor humano propulsor de todas as mudanças econômicas e sociais, que de escravizada, passou a desempregada, biscateira e/ou assalariada. 
Neste dia 01.08.23 ouço, às 09h30, pela minha janela, na Rua Dr. Berredo, 1238, Centro, um carro volante informar que os comerciários trabalharão até 13 horas; sei que as domésticas iniciaram hoje às 06h00; e, os vendedores ambulantes, já organizaram seus carrinhos e aguardam as festas comemorativas se iniciarem logo mais etc. 
Ou seja, a Emancipação, comemorada neste 01 de agosto de 2023, não é para todos e nem ao menos para a maioria da população!
Eu, por exemplo, findo as férias, mas porque perfilho voluntariamente as causas indígena e negra, sinto-me incluído entre os de fora destas comemorações emancipacionistas em Caxias-MA.

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