População de Rio do Pires protesta contra o encerramento da única unidade bancária do município; mais de 47% das cidades baianas já estão sem banco, segundo dados do Banco Central.
O silêncio habitual da pacata cidade de Rio do Pires, no centro-sul da Bahia, foi interrompido na última semana por um protesto popular. Moradores foram às ruas contra o fechamento da única agência bancária do município, previsto para acontecer ainda neste mês. Com o encerramento das atividades, Rio do Pires passará a integrar uma preocupante estatística: a de cidades baianas sem qualquer agência bancária.
Segundo dados do Banco Central, divulgados pelo Sindicato dos Bancários da Bahia, 199 municípios no estado — ou 47,72% do total — já não possuem unidades bancárias em funcionamento. O fenômeno, que avança silenciosamente pelo interior, afeta principalmente cidades pequenas e com baixa densidade populacional.
O fechamento de agências traz sérios impactos para a vida cotidiana dos moradores. Sem acesso direto a serviços bancários, a população — em sua maioria formada por idosos, trabalhadores informais e pequenos produtores rurais — precisa se deslocar para cidades vizinhas para realizar transações simples, como saques, pagamentos de boletos e recebimento de benefícios sociais.
Além dos custos com transporte, há a insegurança nas estradas e o risco de crimes como assaltos e golpes, sobretudo para aposentados e beneficiários do INSS. Em muitos casos, o comércio local também sofre: sem dinheiro circulando, há queda nas vendas e enfraquecimento da economia municipal.
“Estamos vivendo um retrocesso. Para quem mora aqui, manter uma conta ativa agora significa viajar, gastar e correr riscos. É injusto com quem já vive com tão pouco”, desabafa uma moradora de Rio do Pires que participou do protesto.
O avanço do chamado Drex — a moeda digital do Banco Central, ainda em fase de testes — é apontado como um dos elementos que contribuem para a reestruturação do sistema bancário, com foco na digitalização. Embora o Drex prometa facilitar transações no futuro, a realidade das pequenas cidades ainda está longe da inclusão digital plena.
Em locais onde a internet é instável e o acesso a smartphones ainda é limitado, a transição abrupta para o digital pode representar mais exclusão do que progresso.
O Sindicato dos Bancários da Bahia alerta para o desmonte gradual da presença física dos bancos em comunidades vulneráveis, o que dificulta não apenas o acesso ao dinheiro, mas também o acesso ao crédito, à informação financeira e a oportunidades de desenvolvimento.
Enquanto isso, moradores de cidades como Rio do Pires seguem lutando para manter serviços básicos que garantem dignidade e autonomia.
Fonte: Brado
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